O Colégio Central ficava próximo a um grande supermercado e enquanto se aproximava, olhou para o lado e tivera a mesma impressão de quando fora perseguido por aquelas criaturas com rostos mascarados. Fazia muito calor, carros passavam apressadamente pela via em frente à escola. Um grupo de garotos se aproximou dele. Imaginou que estavam indo confirmar a matrícula também. Não lhe disseram nada, apenas retribuíram o olhar. Finalmente, ele e o grupo atravessaram a rua e entraram pelos portões de ferro daquele esplêndido colégio.
Aquele momento foi um dos mais alegres na vida de Hardrik que até chegara a esquecer do misterioso presente, do ataque das misteriosas criaturas e de seu salvador. Finalmente iria ter uma vida como todo garoto comum e se divertir com amigos é o que ele mais gostaria de fazer. Quem dera que esses pensamentos fossem verdade...
Um quadro de avisos enorme estava pendurado logo após a entrada, próximo a um corredor. Hardrik caminhou até ele para examinar onde era o local para a confirmação de matrícula. Verificando, ele achou rapidamente, corredor quinze, sala quinhentos e onze Devagar para não esbarrar-se em ninguém, ele saiu caminhando ao longo do corredor. Deu um sorrisinho de satisfação; parecia exatamente a sua casa, com todos aqueles corredores e salas numeradas. Os corredores estavam cheios de alunos que iam e vinham, alguns se esbarrando nele, pedindo desculpas, outros fazendo cara de bravos. Mas, por fim encontrou com facilidade o corredor e a sala que procurava; parecia estar lotada.
Parou atrás de uma garota de longos cabelos louros que o cumprimentou com um pequeno “oi. Ele retribuiu o cumprimento, e ficou encostado na parede enquanto a fila aumentava. Quinze minutos haviam se passado e ele andara apenas alguns passos. Olhou para trás para ver o tamanho da fila. Ficara enorme. Um garoto que estava atrás dele o observava com interesse e Hardrik não estava gostando nenhum pouco daquilo. Viu que o garoto tinha quase a mesma altura dele, cabelos um tanto arrepiados, como se ele tivesse acabado de levar um tremendo choque o, seus olhos, que o miravam com interesse, eram verde brilhantes. Por certo momento, Hardrik ficou encarando-o, com a impressão de que o conhecia de algum lugar. Virou-se para frente, fechando seus olhos por detrás daquelas lentes negras. Estava novamente viajando através de seus pensamentos, imaginando-se daqui a uma semana entrando mais uma vez para começar os estudos...
- Hardrik Sullivan – chamou uma voz feminina que saía da porta número quinhentos e onze.
Nervoso, ele passou pela garota loura que acabara de sair da sala, e entrou. Ouviu-a falar quando se cruzaram: “Até segunda.”
A sala na qual entrara era muito pequena; havia somente uma mesinha onde uma senhora de cabelos grisalhos anotava algo em uma prancheta. Estava sentada em uma cadeira forrada a couro de boi e trajava um vestido amarelo. Sua cara era um tanto enrugada e seus lábios tremiam mesmo sem produzir nenhum som. Não deu a mínima atenção ao garoto que acabara de entrar na salinha. Tentando chamar a atenção, se sentou na única cadeira que havia, defronte para a senhora. Deu uma olhada rápida em seu relógio e viu que já eram uma e vinte e cinco da tarde. “Já se passara tanto tempo assim?”. Fizera um simples movimento para frente, de modo que pudesse ver o que a senhora estava escrevendo, mas ao fazer isso ela o observou pela primeira vez. Seu rosto expressava extrema autoridade.
- Bem – a voz dela lembrou a Hardrik um radinho com a pilha muito fraca -, quero dar-lhe as boas vindas ao Colégio Central. Você deve saber que em nossa cidade, Green Mountain, há varias escolas, algumas excelentes por assim dizer, mas o objetivo deste é trazer alunos que, tiveram por sua vez, estudos realizados em casa.
- Como você já sabe, Sullivan, o início das aulas é na segunda próxima e você não deverá faltar. Primeiramente, o senhor terá que confirmar sua matrícula comigo se quiser estudar neste colégio.
Chegara onde ele quisera. Confirmou sua presença para o dia quinze de março, assinou uma ficha com seus dados pessoais, com um sorriso como nunca dera antes, e se levantou para sair da saleta. Estava quase na porta quando lembrou-se de algo importante.
- Senhora? – ele chamou educadamente. – Será que poderia fazer uma perguntinha? – O sol estava muito forte, entrando pela janela e refletia em seus óculos escuros.
- Precisamente que sim Sr. Sullivan, diga.
- Bom... não se a senhora sabe, mas eu sempre uso esses óculos. Haverá algum problema quanto a isso?
Hardrik percebeu que ela tentava enxergar através das lentes negras, contudo, apenas sorrira.
- Quanto a isso não haverá problema nenhum. Seu pai ligou para cá me explicando o caso e abrimos uma exceção mínima. Todos os funcionários do colégio sabem sobre a liberação. Mais alguma pergunta?
- Não, senhora, era só isso! Tenha um bom dia..
Ele deu meia volta e caminhou em direção a porta. Ao sair da salinha percebeu que o corredor estava entulhado de alunos novos. Não havia notado uma placa de plástico azul pregada na parede, quando chegara. Observou com atenção a placa, lendo tudo que havia escrito:
COLÉGIO CENTRAL
- BANHEIROS..........................................Corredor Seis
- LANCHONETE......................................Corredor Dezesseis
- DIREÇÃO...............................................Corredor Vinte
- SALAS DE AULA...................................Corredores: Quatro,Cinco,Seis,Sete,Oito,Nove,Dez, Onze.
Decorou facilmente toda a tabela e depois seguiu caminhando em direção ao corredor dezesseis. Estava faminto, não havia comido nada além dos doces
Nunca imaginara que teria um dia tão estranho. Ele ainda não esquecera do ataque que tivera há poucas horas e a todo instante olhava para trás, desconfiado. Os alunos que estavam se matriculando foram ficando cada vez mais distantes enquanto seguia para a lanchonete. Dobrou para um outro corredor um pouco mais elevado, formando uma rampa.
Hardrik viu que o andar de cima estava um pouco mais escuro que o anterior. Hesitou em voltar por um momento, entretanto, no instante em que tirou os óculos para limpar as lentes, ele escutou algo caindo no andar superior. Repôs os óculos e subiu correndo pela rampa, sentindo um formigamento na perna que ainda doía, e pode afirmar com seus próprios olhos que as luzes do ambiente estavam completamente apagadas a não ser por uma luz que vinha do final do corredor, muito distante.
Estava bem no início do corredor. A lanchonete que deveria estar ali, de alguma forma, sumira. O corredor era completamente liso, sem portas e também estreito. Ele ficou parado, encostando-se na parede fria e branca. Olhou para o pouco espaço que havia em um dos lados do corredor e depois para frente para verificar a distancia para chegar até àquela luz distante. Franziu a testa achando estranho o fato de ele ter ouvido algum barulho vindo daquele andar e quando chegar encontrar o lugar deserto e escuro. Era muito estranho...
As paredes brancas escuras mostravam sua sombra enquanto ele caminhava. Chegou até um pequeno trecho do corredor quando ouviu algo passar por suas costas.
Virou-se depressa para ver-se na solidão. Ele sabia que havia alguém ou alguma coisa ali. A mesma sensação que sentiu quando estava sendo seguido por aquelas coisas mais cedo. Voltou para o final do corredor de onde chegara e parou contra a parede. Novamente ele hesitou antes de perguntar abobadamente.
- Quem está ai? – dissera isso mais de uma vez naquele dia e estranhou essa sensação também. Ele tremeu. Quando viu que algo estava surgindo por através da parede ao seu lado.
Soltou um grito de terror, mas não pode saber se alguém o ouvira. Enquanto aquela coisa ia ganhando tamanho ele percebeu que ninguém viria.
Alguma coisa negra estava surgindo pela parede. Ia assumindo o mesmo tamanho de Hardrik e formando uma aparência humana. Como se fosse em câmera lenta, aquela coisa saiu da parede e começou a caminhar em direção ao garoto.
Finalmente, a coisa começava a ganhar forma. Parecia uma sombra, completamente negra e a medida que se aproximava, seu tom negro ia clareando. O cabelo começou a aparecer, os sapatos, o nariz, até finalmente ganhar o “tom” original.
Hardrik não conseguia falar nada. Como é que um garoto, da sua idade atravessara aquela parede? Pois com certeza era um garoto. E muito parecido com Hardrik.
Seu rosto era um pouco menor, o cabelo curto e liso estava brilhante mesmo estando escuro. Tinha um olhar vitorioso, como se tivesse encontrado algo realmente que procurava. Aqueles olhos que Hardrik não pode distinguir a cor, de certo modo estavam deixando-o com um pouco de medo.
Os dois se encaravam desprezadamente. Mas Hardrik teve a sensação de que conhecia aquele garoto de algum lugar. Seria ele que o atacara hoje cedo? Ou fora ele que o salvara? Ele descobriu assim que o garoto atravessador de paredes falou.
- Então você é o Sullivan? – sua voz era morta e arrogante ao mesmo tempo. – Estou te procurando faz um bom tempo. Vi que meus fadares negros não conseguiram acabar com você, mas não se preocupe. Vou matá-lo aqui, e agora.
Antes que Hardrik fizesse alguma coisa, seu corpo fora jogado contra a parede lisa e ele sentiu uma dor enorme na cabeça. Seus óculos ficaram firmes sobre o nariz, mas não conseguia enxergar muito bem. Sentiu como se algo o enfraquecesse e ardesse sua mente. Onde estava o Hardrik Sullivan que sabia se defender quando seu pai o atacava nas aulas de esgrima? Onde estava aquele Hardrik Sullivan bravo e corajoso? Essas duas frases invadiram sua mente atordoando-o. Faça algo! Reaja! Ele falava para si mesmo.
O outro garoto estava se aproximando rapidamente e Hardrik jogado no chão. Isso estava ficando realmente muito estranho. Tentava se levantar, mas era inútil; ouviu passos se aproximando e se viu pressionado contra a parede. Um cheiro de alho invadiu o corredor e quando ele olhou para rosto daquele garoto estranho, percebeu que novamente ele estava tomando a forma de uma sombra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário