domingo, 16 de março de 2008

Capítulo Dois - A Sombra

O Colégio Central ficava próximo a um grande supermercado e enquanto se aproximava, olhou para o lado e tivera a mesma impressão de quando fora perseguido por aquelas criaturas com rostos mascarados. Fazia muito calor, carros passavam apressadamente pela via em frente à escola. Um grupo de garotos se aproximou dele. Imaginou que estavam indo confirmar a matrícula também. Não lhe disseram nada, apenas retribuíram o olhar. Finalmente, ele e o grupo atravessaram a rua e entraram pelos portões de ferro daquele esplêndido colégio.

Aquele momento foi um dos mais alegres na vida de Hardrik que até chegara a esquecer do misterioso presente, do ataque das misteriosas criaturas e de seu salvador. Finalmente iria ter uma vida como todo garoto comum e se divertir com amigos é o que ele mais gostaria de fazer. Quem dera que esses pensamentos fossem verdade...

Um quadro de avisos enorme estava pendurado logo após a entrada, próximo a um corredor. Hardrik caminhou até ele para examinar onde era o local para a confirmação de matrícula. Verificando, ele achou rapidamente, corredor quinze, sala quinhentos e onze Devagar para não esbarrar-se em ninguém, ele saiu caminhando ao longo do corredor. Deu um sorrisinho de satisfação; parecia exatamente a sua casa, com todos aqueles corredores e salas numeradas. Os corredores estavam cheios de alunos que iam e vinham, alguns se esbarrando nele, pedindo desculpas, outros fazendo cara de bravos. Mas, por fim encontrou com facilidade o corredor e a sala que procurava; parecia estar lotada.

Parou atrás de uma garota de longos cabelos louros que o cumprimentou com um pequeno “oi. Ele retribuiu o cumprimento, e ficou encostado na parede enquanto a fila aumentava. Quinze minutos haviam se passado e ele andara apenas alguns passos. Olhou para trás para ver o tamanho da fila. Ficara enorme. Um garoto que estava atrás dele o observava com interesse e Hardrik não estava gostando nenhum pouco daquilo. Viu que o garoto tinha quase a mesma altura dele, cabelos um tanto arrepiados, como se ele tivesse acabado de levar um tremendo choque o, seus olhos, que o miravam com interesse, eram verde brilhantes. Por certo momento, Hardrik ficou encarando-o, com a impressão de que o conhecia de algum lugar. Virou-se para frente, fechando seus olhos por detrás daquelas lentes negras. Estava novamente viajando através de seus pensamentos, imaginando-se daqui a uma semana entrando mais uma vez para começar os estudos...

- Hardrik Sullivan – chamou uma voz feminina que saía da porta número quinhentos e onze.

Nervoso, ele passou pela garota loura que acabara de sair da sala, e entrou. Ouviu-a falar quando se cruzaram: “Até segunda.”

A sala na qual entrara era muito pequena; havia somente uma mesinha onde uma senhora de cabelos grisalhos anotava algo em uma prancheta. Estava sentada em uma cadeira forrada a couro de boi e trajava um vestido amarelo. Sua cara era um tanto enrugada e seus lábios tremiam mesmo sem produzir nenhum som. Não deu a mínima atenção ao garoto que acabara de entrar na salinha. Tentando chamar a atenção, se sentou na única cadeira que havia, defronte para a senhora. Deu uma olhada rápida em seu relógio e viu que já eram uma e vinte e cinco da tarde. “Já se passara tanto tempo assim?”. Fizera um simples movimento para frente, de modo que pudesse ver o que a senhora estava escrevendo, mas ao fazer isso ela o observou pela primeira vez. Seu rosto expressava extrema autoridade.

- Bem – a voz dela lembrou a Hardrik um radinho com a pilha muito fraca -, quero dar-lhe as boas vindas ao Colégio Central. Você deve saber que em nossa cidade, Green Mountain, há varias escolas, algumas excelentes por assim dizer, mas o objetivo deste é trazer alunos que, tiveram por sua vez, estudos realizados em casa.

- Como você já sabe, Sullivan, o início das aulas é na segunda próxima e você não deverá faltar. Primeiramente, o senhor terá que confirmar sua matrícula comigo se quiser estudar neste colégio.

Chegara onde ele quisera. Confirmou sua presença para o dia quinze de março, assinou uma ficha com seus dados pessoais, com um sorriso como nunca dera antes, e se levantou para sair da saleta. Estava quase na porta quando lembrou-se de algo importante.

- Senhora? – ele chamou educadamente. – Será que poderia fazer uma perguntinha? – O sol estava muito forte, entrando pela janela e refletia em seus óculos escuros.

- Precisamente que sim Sr. Sullivan, diga.

- Bom... não se a senhora sabe, mas eu sempre uso esses óculos. Haverá algum problema quanto a isso?

Hardrik percebeu que ela tentava enxergar através das lentes negras, contudo, apenas sorrira.

- Quanto a isso não haverá problema nenhum. Seu pai ligou para cá me explicando o caso e abrimos uma exceção mínima. Todos os funcionários do colégio sabem sobre a liberação. Mais alguma pergunta?

- Não, senhora, era só isso! Tenha um bom dia..

Ele deu meia volta e caminhou em direção a porta. Ao sair da salinha percebeu que o corredor estava entulhado de alunos novos. Não havia notado uma placa de plástico azul pregada na parede, quando chegara. Observou com atenção a placa, lendo tudo que havia escrito:

COLÉGIO CENTRAL

- BANHEIROS..........................................Corredor Seis

- LANCHONETE......................................Corredor Dezesseis

- DIREÇÃO...............................................Corredor Vinte

- SALAS DE AULA...................................Corredores: Quatro,Cinco,Seis,Sete,Oito,Nove,Dez, Onze.

Decorou facilmente toda a tabela e depois seguiu caminhando em direção ao corredor dezesseis. Estava faminto, não havia comido nada além dos doces em casa. Enquanto caminhava rumo ao corredor, lembrou-se que havia colocado alguns docinhos em seu bolso, mas quando pôs sua mão no bolso, os encontrou amassados e sujos. Notara também que o jeans e a camisa preta estavam sujas em algumas partes.

Nunca imaginara que teria um dia tão estranho. Ele ainda não esquecera do ataque que tivera há poucas horas e a todo instante olhava para trás, desconfiado. Os alunos que estavam se matriculando foram ficando cada vez mais distantes enquanto seguia para a lanchonete. Dobrou para um outro corredor um pouco mais elevado, formando uma rampa.

Hardrik viu que o andar de cima estava um pouco mais escuro que o anterior. Hesitou em voltar por um momento, entretanto, no instante em que tirou os óculos para limpar as lentes, ele escutou algo caindo no andar superior. Repôs os óculos e subiu correndo pela rampa, sentindo um formigamento na perna que ainda doía, e pode afirmar com seus próprios olhos que as luzes do ambiente estavam completamente apagadas a não ser por uma luz que vinha do final do corredor, muito distante.

Estava bem no início do corredor. A lanchonete que deveria estar ali, de alguma forma, sumira. O corredor era completamente liso, sem portas e também estreito. Ele ficou parado, encostando-se na parede fria e branca. Olhou para o pouco espaço que havia em um dos lados do corredor e depois para frente para verificar a distancia para chegar até àquela luz distante. Franziu a testa achando estranho o fato de ele ter ouvido algum barulho vindo daquele andar e quando chegar encontrar o lugar deserto e escuro. Era muito estranho...

As paredes brancas escuras mostravam sua sombra enquanto ele caminhava. Chegou até um pequeno trecho do corredor quando ouviu algo passar por suas costas.

Virou-se depressa para ver-se na solidão. Ele sabia que havia alguém ou alguma coisa ali. A mesma sensação que sentiu quando estava sendo seguido por aquelas coisas mais cedo. Voltou para o final do corredor de onde chegara e parou contra a parede. Novamente ele hesitou antes de perguntar abobadamente.

- Quem está ai? – dissera isso mais de uma vez naquele dia e estranhou essa sensação também. Ele tremeu. Quando viu que algo estava surgindo por através da parede ao seu lado.

Soltou um grito de terror, mas não pode saber se alguém o ouvira. Enquanto aquela coisa ia ganhando tamanho ele percebeu que ninguém viria.

Alguma coisa negra estava surgindo pela parede. Ia assumindo o mesmo tamanho de Hardrik e formando uma aparência humana. Como se fosse em câmera lenta, aquela coisa saiu da parede e começou a caminhar em direção ao garoto.

Finalmente, a coisa começava a ganhar forma. Parecia uma sombra, completamente negra e a medida que se aproximava, seu tom negro ia clareando. O cabelo começou a aparecer, os sapatos, o nariz, até finalmente ganhar o “tom” original.

Hardrik não conseguia falar nada. Como é que um garoto, da sua idade atravessara aquela parede? Pois com certeza era um garoto. E muito parecido com Hardrik.

Seu rosto era um pouco menor, o cabelo curto e liso estava brilhante mesmo estando escuro. Tinha um olhar vitorioso, como se tivesse encontrado algo realmente que procurava. Aqueles olhos que Hardrik não pode distinguir a cor, de certo modo estavam deixando-o com um pouco de medo.

Os dois se encaravam desprezadamente. Mas Hardrik teve a sensação de que conhecia aquele garoto de algum lugar. Seria ele que o atacara hoje cedo? Ou fora ele que o salvara? Ele descobriu assim que o garoto atravessador de paredes falou.

- Então você é o Sullivan? – sua voz era morta e arrogante ao mesmo tempo. – Estou te procurando faz um bom tempo. Vi que meus fadares negros não conseguiram acabar com você, mas não se preocupe. Vou matá-lo aqui, e agora.

Antes que Hardrik fizesse alguma coisa, seu corpo fora jogado contra a parede lisa e ele sentiu uma dor enorme na cabeça. Seus óculos ficaram firmes sobre o nariz, mas não conseguia enxergar muito bem. Sentiu como se algo o enfraquecesse e ardesse sua mente. Onde estava o Hardrik Sullivan que sabia se defender quando seu pai o atacava nas aulas de esgrima? Onde estava aquele Hardrik Sullivan bravo e corajoso? Essas duas frases invadiram sua mente atordoando-o. Faça algo! Reaja! Ele falava para si mesmo.

O outro garoto estava se aproximando rapidamente e Hardrik jogado no chão. Isso estava ficando realmente muito estranho. Tentava se levantar, mas era inútil; ouviu passos se aproximando e se viu pressionado contra a parede. Um cheiro de alho invadiu o corredor e quando ele olhou para rosto daquele garoto estranho, percebeu que novamente ele estava tomando a forma de uma sombra.

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