segunda-feira, 28 de abril de 2008

Não me irrite!


Não me irrite
Pois talvez seja a última
coisa que você queira realmente fazer.
Não me irrite!
Meus nervos estão à flor da pele.
É algo inexplicável
Irritar-se de uma hora para outra
Ou será que já acordei assim?
Não me irrite!
Caso você esteja perto demais
minhas mãos podem alcançar facilmente
a sua cara estúpida e arrogante
Rindo de sei lá o que.
Dizendo mentiras que me frustram;
Provocando-me, induzindo-me ao nervosismo.
Por isso, por favor.
Não me deixe irritado.
Sou um garoto calmo quando se deve ser,
a maioria das vezes, quieto, precisando de alguém
maduro demais para se ter uma conversa racional.
Mas sempre há aqueles, que parecem ter vindo ao mundo
somente para me encomodar, e fazer com que eu perca
a minha paciência.
Ah... não, não me irrite!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Insônia


Oh, esta maldita insônia
Que atrapalha minha noite.
Pretendo dormir, estou deitado, olhando para o teto branco,
refletindo, analisando a minha vida, meus erros, meus acertos.
As preocupações em minha cabeça fazem com que eu fique sem sono.
Fico absorto, vulnerável, apreensivo.
São apenas 4:10 da manhã, tudo bem.
Me levanto e tomo um café,
apoiado no parapeito da janela do quarto andar,
sentindo o vento gélido de outono no meu rosto.
Maldita hora em que decidi tomar café.
A insônia continua, e eu vou me irritando com ela.
Torno a me deitar, volto a olhar para o teto branco,
para refletir e analisar a minha vida.
Oh, maldita insônia.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Capítulo Três – Boas vindas

A Residência dos Sullivan estava completamente escura exceto por uma luz no primeiro andar, na janela do canto esquerdo. Os postes da propriedade também estavam apagados e o portão semi-aberto. Não parecia, mas Hardrik notou que algo estranho estava acontecendo realmente no interior da casa.

- É melhor entrarmos, não? – Rach perguntou, soltando Hardrik para poder respirar melhor. – Já é tarde e você nem deveria estar fora de casa.

Hardrik não respondeu imediatamente. Olhava fixamente para o térreo, onde a luz acesa da sala de vistas chamara sua atenção, e imaginou o que estaria acontecendo lá dentro (dificilmente seu pai deixava luzes acesas àquela hora da noite). Indiferente, ele por fim assentiu e lentamente passaram pelo portão e entraram na propriedade. Os gramados negros estavam úmidos e as poucas flores que haviam ali ressonavam na noite fria. Rach olhava para os lados, à procura de algo anormal e junto a Hardrik caminharam juntos até a porta da frente.

- Agora que estou aqui não tenho vontade de entrar – Hardrik disse meio trêmulo.

- Por quê? – Rach quis saber.

- Eu não tenho a mínima idéia. Mas acho que coisas estão para serem reveladas hoje. – ele não soube por que disse aquilo, mas não se importou.

Rach o olhou sem entender. Mas, Hardrik realmente sentia isso e percebeu que a corrente que Rach lhe dera estava tremeluzindo em seu pescoço. O outro percebeu e disse um tanto animado:

- Seus dons estão quase desenvolvidos sabia?

- Como assim? – Hardrik perguntou distraído. Ainda olhava para sua casa.

Rach mexeu em suas vestes e à altura do pescoço ele retirou uma corrente fina e prateada, igual à de Hardrik, até a chavezinha mínima. Só que em vez de ter uma pedrinha de rubi, havia uma pedrinha verde brilhante: esmeralda.

O garoto deu uma risadinha baixa; qualquer barulho incômodo acordaria os vizinhos, ou até chamaria a atenção de alguém do interior da casa de Hardrik.

- Seu pai ainda não lhe contou não é? – Hardrik sacudiu negativamente a cabeça. – Então, não sou eu que vou lhe contar.

Uma nota de desapontamento invadiu o cérebro de Hardrik. A imagem de seu pai lhe veio à cabeça de tal forma que ele se lembrara de algo importante.

A visão de seu pai gritando com ele e em seguida pedindo-lhe desculpas; doces e guloseimas em cima de uma grande mesa; embrulhos de vários tamanhos sobre o chão e a voz de seu pai lhe dizendo: “... não é a hora certa para lhe contar tudo... talvez quando você chegue antes de eu partir... contarei-lhe tudo...”.

- Não se preocupe. Essa corrente detecta sinais de fadares desconhecidos que estão por perto. – ele se aproximou e baixou a voz, como se receasse que alguém ouvisse – É conhecida como Corrente Fadariana, e somente pessoas como nós acima de dezesseis anos a recebem, para poder desenvolver seus dons.

Hardrik ficou absorto.

- Eu entendi em parte, mas tudo bem... – ele hesitou antes de colocar sua mão na maçaneta, contudo, quando ele a girou alguém abrira do lado de dentro.

Sua respiração diminuiu ao ver uma figura alta, de cabelos grisalhos e sobrancelhas grossas. Olhos cansados e barba a fazer. Estava vestindo um casaco de pele de leão e – Hardrik pode perceber – em seu pescoço havia uma corrente prateada.

- Meu sobrinho querido! – exclamou Felipe Sullivan, tio de Hardrik.

O garoto ficou pregado na porta chocado. Das coisas estranhas que aconteceram naquele dia, Hardrik pensou, esta foi a maior. A última vez que o garoto vira seu tio ele tinha apenas cinco anos. Depois desapareceu; ele fora morar no exterior, junto da esposa e o filho que nem Hardrik chegara a conhecer...

- Vi que você cresceu muito desde minha última visita. – o tio Felipe falava, o que trouxe Hardrik de volta a terra. – Mas agora creio que irei ver você crescer melhor...

- O quê?, o senhor se mudou para a cidade? – ele deixou escapar.

- Não, não – o tio sorria (como ele se parece com meu pai quando ele faz isso, pensou Hardrik). – É algo bem melhor. Irei morar aqui para sempre...

- Quê? – Hardrik gritou.

- Acalme-se. Não sabia que você iria ficar espantado com a notícia. Imaginei que Hélvio havia lhe contado. Mas agora isso não vem ao caso. Vamos entrar.

Felipe esperou Hardrik entrar e parou Rach na porta.

- E quem seria você? – ele ergueu uma sobrancelha.

- Sou Rach Gemini, caçador de lendas e guardião permanente de Hardrik Sullivan. Não tenho tempo de ficar parado aqui fora enquanto ele está sozinho precisando de proteção e não é o senhor que vai me impedir de entrar, pois tenho a livre autorização de entrar nesta casa.

O garoto disse isso tão rapidamente que Hardrik não conseguiu decorar. Por fim Felipe ficara com cara de quem come e não gosta e Rach entrara na casa acompanhando Hardrik até a sala.

Aproximou-se, esperando encontrar seu pai sentado no sofá, mas apenas encontrou a sala vazia, exceto por um garoto sentado no sofá ao canto lendo uma revista intitulada Mutantes: Como ficar oculto na sociedade? Ele parou de ler quando Hardrik e Rach entraram na sala e ficou acompanhando os dois sentarem (o mais longe possível dele) e depois voltar a ler silenciosamente. O garoto tinha a pele macilenta e olhos cor de âmbar, junto com os braços em desalinho e o queixo fino. Rach ficou olhando para o garoto durante quinze longos minutos e Felipe só chegou à sala vinte minutos depois, trazendo quatro copos de chá gelado.

- Terei que fazer umas comprinhas – disse ele, oferecendo os copos para todos na sala. –, e escolher um quarto para o meu filho.

Ele apontou para o garoto que estava lendo a revista. Ele bebia lentamente o chá que seu pai trouxera e mantinha os olhos pregados na revista. Rach por outro lado não bebera nada e olhava para Hardrik, que estava entediado.

- Onde está meu pai? – ele quis saber.

Tio Felipe olhou para ele confuso.

- Ele teve que se ausentar por um tempo, mas não se preocupe que estarei aqui para tomar conta de você. – falou paternalmente para Hardrik, que se sentiu incomodado. Ele pensou que seu pai estaria ali para contar sobre seu passado. – Você sabe Hardrik, ele começou um novo emprego e está para ganhar milhões! – ele abriu um sorriso. – Isso não é importante agora...

- Que tipo de trabalho? – exigiu saber Hardrik. – É longe? Quando ele volta?

O tio o olhou meio impaciente e este sentiu pela primeira vez suas bochechas ficarem vermelhas. Sentiu, de fato, vergonha pela grosseria que cometera, mas pediu desculpas logo em seguida.

- Não é nada filho. Mas agora isso não é importante. – ele cutucou o garoto que estava lendo e disse: - Esse aqui é o meu filho, Iago. Ele não conhece muitas coisas do país, mas consegue falar e entender nossa língua.

Iago acenou para Hardrik e Rach, completamente entediado, e eles retribuíram o aceno, loucos de vontade de rir.

- Iago este é Hardrik seu primo e o outro garoto é Rach, o caçador de lendas. – tio Felipe falou, bebendo um pouco do chá de seu copo.

- Caçador de Lendas, é? – Iago disse com desdém. – Imagino que você não chegue nem aos pés do maior caçador de lendas que existiu entre os fadares, Rag Gemini, o maior.

Rach riu. Levantou-se e ficou encarando Iago com total nojo.

- É uma grande coincidência você dizer isso moleque. – ele cuspia a cada palavra que dizia. – Não sabia que na família Sullivan havia fãs de meu querido pai Rag Gemini, o guerreiro.

Iago ficou estupefato com aquilo que Rach acabara de dizer. Por fim tentou pedir desculpas, mas quase piorou a situação.

- Não precisa desculpar-se! – ele gritava e Hardrik não se importou. – Pode falar o que quiser, mas não toque mais no nome de meu pai! A próxima, eu juro, você não irá sair ileso.

A sala ficou silenciosa após tal episódio. Felipe ficou abobalhado em ver um estranho gritar com seu filho, mas nada disse. Hardrik olhava espantado para Rach e ficou calado. De certa forma a presença de Iago no resto da noite tornou-se totalmente desagradável para Rach que teve que dividir a mesa do jantar com ele.

Logo em seguida ele e Hardrik deixaram a mesa do jantar (sob um olhar de censura de seu tio Felipe) e dirigiram-se para o hall, sem dizer uma palavra até chegarem à porta.

- Estou indo então cara. – disse Rach.

- Tem certeza? Está tarde e seria melhor que você ficasse.

Rach olhou para Hardrik com as sobrancelhas erguidas.

- Não fico perto desse bosta de Iago nem que você me entregue uma bolsa com ouro.

Hardrik não entendera o motivo pela raiva de Rach pelo seu primo e nem quis perguntar naquele momento, pois tinha quase a certeza de que este iria ficar bravo com ele e não ficaria ali. Então, tentou resolver uma coisa.

- Você não precisa ficar perto – falou com determinação. – Nem eu quero ficar perto dele. – ele mostrou a língua -; e de certa forma você irá dormir no meu quarto que fica no sótão, dois andares acima. Ou seja, distante de Iago.

Ele esperou Rach dar a resposta. O garoto parecia estar pensando o que deveria fazer. Se ficasse, ele teria alguém para conversar; se ele decidisse partir...

- Bem Hardrik... – ele começou fingindo uma voz sonolenta. -, irei ficar somente por que minha casa fica longe e estou com preguiça de andar. Se não fosse por isso...

Assim, ele e Hardrik subiram as escadas e seguiam pelo corredor com portas numeradas, até chegarem a porta de número trinta e três.

- Sabe Rach – Hardrik começou escolhendo as palavras. -, já que você vai ficar aqui... bem, você poderia me contar um pouco mais sobre os fadares, não é?

Ele olhou para Rach e viu que este sorria.

- Eu estava realmente imaginando isso – ele deu uma risadinha -, que você iria querer me perguntar a respeito. Contudo irei lhe contar somente sobre os fadares e nada de mais. Não irei contar-lhe coisas que não devo...

Haviam chegado à porta trinta e três e Hardrik a abriu, deixando Rach entrar primeiro e em seguida a fechou. Archotes cobriam as paredes do corredor que levava para o seu quarto e suas sombras tremeluziam de acordo com o fogo. Rach chegou a assustar-se com a sua própria e só ficou aliviado ao chegar ao sótão.

- É que eu não sei muita coisa sobre os fadares e gostaria de saber algumas coisas.

Sentou-se em sua cama enquanto Rach observava a Rua da Calamidade pela janela. A luz estava fraca e sua cama desarrumada. Rach não lhe respondeu imediatamente. Algo na rua o fez ficar paralisado.

- O que foi? – Hardrik pareceu preocupado e também foi até a janela.

A rua estava escura, exceto por uma luz que fora acesa recentemente na casa à frente. Era ilustre e de cor laranja com janelas de vidros grossos e cortinas brancas sedosas. O jardim era imenso e um pouco parecido com o da Residência dos Sullivan. Mas de certo modo aquela casa sempre esteve vazia e mal notada pelos habitantes. Agora, sem aviso, um carro prateado estava estacionado em frente à casa, junto com um caminhão de mudanças sendo descarregado. Mas Hardrik não via motivo algum para Rach estar com aquela cara; resolveu então perguntar mais uma vez.

- O que foi Rach? – ele olhava para o garoto e para casa à frente sem entender.

- Não acredito que até eles vieram para Green Mountain! – falou quase tão de repente que Hardrik levou um pequeno susto.

- Eles quem cara? – Hardrik exigiu saber, olhando para a casa.

Havia gente movimentando-se do lado de fora da casa, carregando caixas e sacolas. Uma sombra alta carregava imensas caixas de uma só vez e o garoto teve que piscar várias vezes para ter certeza do que estava realmente vendo.

- Realmente acho que ele resolveu voltar para a Liga dos Guardiões ou veio por outro motivo. – Rach pensou em voz alta.

Hardrik dera um cutucão forte em Rach e fez com que este voltasse a terra.

- Quem são eles?

- Não é “eles” – disse Rach massageando os ombros -, e sim “ele”. Um garoto fadar que ninguém consegue perseguir, matar e muito menos, controlar.

Ele deu mais uma olhada pela janela e Hardrik fez o mesmo.

Viu que havia um garoto e uma garota saindo do carro, ambos levando varias bagagens. Colocaram as bagagens no chão, mas logo depois o garoto desaparecera, deixando a garota sozinha.

- Que foi aquilo? – Hardrik pareceu ansioso e assustado. Olhou para Rach e percebeu que seus cabelos arrepiados murcharam de certa forma e tremia.

Uma nota de pânico invadiu o peito de Hardrik que chegara a sentir uma fisgada em seu coração. Ele se afastou da janela e correu para cima de sua cama. Rach fez o mesmo e sentou-se mais uma vez ao seu lado, completamente estupefato.

- De qualquer forma – Rach sussurrou no quarto, a luz fraca -,teremos de visita-lo amanha cedo assim que nos acordar.

Hardrik não disse nada; apenas olhava para a janela como se ela fosse um monstro.

- Agora acho que é melhor esquecermos o que vimos e sabemos. – ele se levantou e se espreguiçou. – Preciso de um bom banho. Onde fica o banheiro?

- Na portinha atrás do meu guarda-roupa Rach. – Hardrik lhe respondeu com a voz fraca. – Tem um pijama velho que não uso atrás da portinha e as toalhas estão no armário do banheiro mesmo.

- Beleza então.

Rach desapareceu pela portinha oculta e Hardrik ficou ali em sua cama, completamente espantado com as coisas que se sucederam naquele dia. Olhou para o relógio sobre a mesa-de-cabeceira e viu que eram duas e meia da manhã. Seu irmão estaria chegando logo logo e seu pai saíra sem deixar mais nenhum recado. Seu tio viera morar com eles e trouxe junto um primo chato e metido. Vizinhos estranhos acabaram de chegar à Rua da Calamidade. E Rach estava agindo um pouco estranho.

Levou as mãos à cabeça e revirou seu cabelo. Seus óculos escuros estavam irritando-o e o retirou imediatamente do rosto. Ele não queria que ninguém olhasse para eles, mas agora que tudo de estranho tem acontecido ele não via outra escolha.

A portinha atrás do guarda-roupa se abrira e Rach aparecera vestindo seu pijama alaranjado e com cheiro de mofo. Hardrik fechou os olhos rapidamente e se levantou desajeitado.

- Calma Hardrik! – Rach riu. – Estou vestido, embora eu pareça uma abóbora, mas não ligo.

- Não é isso cara. – disse Hardrik, ainda com as mãos ocultando seus olhos. – Só não quero que ninguém olhe para os meus olhos. É só isso.

Hardrik esperou ouvir uma breve resposta, mas bem antes disto ele ouviu Rach dar uma risadinha.

- Eu sei o segredo de seus olhos Hardrik – ele foi se aproximando, seus cabelos molhados e brilhantes chegavam às orelhas. – Mas tem uma coisa que eu quero te perguntar antes de amanhecer e eu começar a ensinar você...

- Me ensinar? – ele pareceu confuso e chegou a hesitar em tirar as mãos dos olhos.

- Éé – disse Rach meio impaciente. – Mas quero lhe perguntar uma coisa. – ele ficou quieto por um instante e ouviu o som de um caminhão partindo na noite, do lado de fora, mas não se importou. – Você já machucou alguém, ou teve vontade de machucar?

Hardrik ficou imóvel e não respondeu. Essa pergunta era muito óbvia e imagens que ele nunca havia visto começaram a aparecer em sua mente.

Fazia um lindo dia ensolarado na Rua da Calamidade e a Residência dos Sullivan parecia alegre e muito confortável. Os jardins continham a grama verde e fofa, com flores coloridas e mudinhas de árvores cresciam a toda volta. Por trás da Residência uma grande piscina com as bordas de mármore amarelo, refletia o sol na água e nas cadeiras de sol que estavam próximas. Uma mulher bonita e jovem, vestindo um maiô e por cima uma espécie de tanga de seda púrpura. Ela estava sentada em uma das cadeiras, tomando um bom banho de sol. Empregados e jardineiros estavam espalhados por toda Residência podando e limpando o quintal e a casa no lado de dentro. A mulher, cujos cabelos castanhos lhe chegavam aos ombros, segurava um pequeno bebê e o amamentava, enquanto um outro garotinho um pouco mais velho brincava perto da piscina.

- Por favor, Noêmia chame Hélvio – mandou a Sra. Sullivan para a empregada próxima. –, e diga a ele que tenho um jantar marcado com Izadora Armstrong Bonnes às oito em ponto.

- Sim senhora. – a empregada fez uma reverência e se dirigiu à casa.

A Sra. Sullivan estava fazendo Hardrik dormir, mas havia muita balburdia e Hugo não estava ajudando com aqueles ataques frenéticos para se lançar na piscina. Não demorou muito e Hélvio saía de dentro da casa e se aproximava da Sra. Sullivan. Ele parecia bem mais jovem, a única coisa que o Hélvio Sullivan possuía de diferente eram as rugas.

- Me chamou Helena? – ele perguntou para a esposa, mostrando como sempre fazia, seus dentes brancos e brilhantes. – Não tenho muito tempo hoje sabe minha querida. O projeto da receita de minha falecida mãe que eu encontrei na noite passada é um achado! – ele levantou as mãos. – Podemos ficar mais ricos do que já somos.

Helena olhava para Hélvio com total desprezo; ela não gostava de ver seu marido agindo feito um maluco e sentia-se até envergonhada com aquilo.

- Está bem Hélvio. – ele abalava Hardrik em seu colo, e ele até que parecia imóvel. – Mas tenho que lhe perguntar uma coisa sobre o garoto.

Apontou para Hardrik e até Hugo parara de fazer bagunça para tentar escutar os pais conversando. Este tinha as mesmas feições de Helena, exceto os olhos, que eram azuis.

- Você quer saber sobre a... – Hélvio olhou para os lados e viu que alguns empregados estavam próximos e ele teve certeza de que estavam ouvindo. – a proposta dela?

Helena confirmou com a cabeça apreensiva. Hélvio coçou a cabeça parecendo pensativo. Ele pediu para que os empregados se retirassem para os dois poderem conversar em particular e só assim pôde aumentar um pouco o volume de sua voz.

- Eu a visitei noite passada como você sabe muito bem. – ele sentou-se ao lado de Helena, enquanto o bebê Hardrik dormia em seu colo. – Ela não ficou nem um pouco surpresa com a minha visita e falou que demorei para procurá-la.

- E então querido?

- Não tive nenhum sucesso com a proposta. – Hélvio levou as mãos na cabeça, inconformado. – Ela não quis aceitar a troca e falou que ele irá ficar assim para o resto de sua vida.

- Foi só isso que ela falou?- Helena parecia horrorizada. Seus olhos estavam fora de órbita e sua respiração aumentara. – Mas... mas... mas o que nós iremos fazer então Hélvio? É perigoso demais!

Hélvio estava pálido e sua respiração também estava acelerada. Ele tinha de tomar uma decisão; olhava de Helena para Hardrik fechava os olhos, assustado. Por quarenta e cinco minutos ele ficou parado, e Helena a observá-lo, até que finalmente ele se levantou.

- Bem Helena – ele tremia. – A única de maneira de ficarmos seguros é trancá-lo em um lugar distante das pessoas.

- Mas por quê...?

Hélvio chegou perto da esposa e pegou Hardrik nos braços.

- Você carrega uma maldição Hardrik. E espero que mais tarde você me compreenda.

A Sra. Sullivan o tomou de Hélvio e o colocou mais uma vez em seu colo. Hugo, que estava por perto escutando não entendera nada do que seus pais conversaram e voltou a brincar perto da piscina.

- Eu não ligo a mínima para essa maldição Hélvio. – Helena acalmara-se e parecia escandalizada agora. – Ele é nosso filho e você não vai largá-lo como fez com o outro irmão dele.

O Sr. Sullivan se levantara, completamente mudado, igual no dia em que ele se alterara com Hardrik.

- Por que você não fica quieta? – falou tão alto que Hugo parara de brincar mais uma vez e saíra correndo para dentro de casa. – Aquele outro era um total problema! Na verdade não era não! – seu rosto jovial ficara vermelho e saía cuspe de sua boca. – É a nossa família que têm problemas! Nossa casa, nossos filhos! O meu irmão idiota tem problemas! Essa maldição é mais um obstáculo para nossa família!

Helena estava levando tudo àquilo na cara e não levantou um dedo sequer. Alguns empregados distantes observavam a cena de briga.

- Mas me explica! Nossos descendentes; eles são os culpados. Isso sim! A Aliança Fadariana como dizem falhou em nos proteger como havia nos prometido! Os Guardiões desgraçados onde estavam na noite em que meu último herdeiro nascera? Onde mai...

Um grito horrorizado cortara o ar e Hardrik viu tudo ficar escuro; uma sombra passara por sua mente e quando ele abriu os olhos se viu sentado em sua cama, sua roupa encharcada de suor.

- Você está bem? –Rach perguntou verificando a temperatura de Hardrik. – Olhe para mim cara!

- Não é nada. – mentiu o garoto levantando-se e indo tomar banho.

Quinze minutos depois ele estava de volta, vestindo um pijama azul e branco. Rach preparara sua cama e ia se deitar.

- Boa noite Hardrik. – ele desejou indiferente. De certa forma estava aborrecido com ele por ter ignorado a pergunta; entretanto Rach não sabia que finalmente a mente de Hardrik voltara ao normal. Shadow a consertara de modo que o garoto se lembrasse de seu passado, mas por quê?

Cansado, se dirigiu até a cama e lá se deitou virado para a parede. Não estava preparado para mostrar aqueles olhos – os olhos que ele usara contra alguém no passado -, contudo Rach ensinará a ele ao amanhecer.

O garoto, que preparara uma pequena cama no chão, adormeceu logo eu deitara, deixando Hardrik em pensamentos. A imagem de Helena Sullivan petrificada passou veloz na sua mente, junto de uma pequena flor branca. Ele sentia seu cheiro. Era doce e suave, como um campo florido e ensolarado. Um cheiro tão gostoso, que Hardrik Sullivan adormeceu instantaneamente. Sem lembrar-se de quase nada na manhã seguinte em que acordara.

Na manhã seguinte Hardrik levantou-se atordoado. Pelo visto rach já se levantara e arrumara a sua cama, e as cortinas da janelinha estavam abertas, deixando pequenos raios de sol entrar no quarto. Decidiu guardar o sonho que tivera somente para ele, e também tentaria ser um pouco mais alegre. Foi até o banheiro fazer xixi e logo em seguida vestiu-se – uma camiseta verde, calça jeans escuras e o seu tênis -; ainda atordoado, ele pegou seus óculos escuros e saiu lentamente do sótão.

Chegou ao corredor com portas numeradas dez minutos depois e ouviu vozes altas vindas do andar abaixo. De fato tio Felipe estava tendo uma discussão com Rach. Mal chegara ao patamar e conseguia ouvir o que tio Felipe gritava.

- DE JEITO NENHUM! HARDRIK NÃO VAI APRENDER UMA COISA DESSAS! É PERIGOSO DEMAIS!

- Você acha perigoso? – Rach dizia tranquilamente. – Fadarius Ocularius é uma habilidade muito difícil sim, mas com treinamento ele conseguirá...

- É MESMO? – Felipe estava roxo de raiva. Iago ficou parado ao lado de seu pai, olhando para Rach com absoluto desprezo. – RACH GEMINI CAPAZ DE ENSINAR? QUERO QUE SAIBA QUE EU ESTOU COMO RESPONSAVEL POR HARDRIK...

Hardrik desceu as escadas e parou ao lado de Rach, que bufava feito um touro furioso. Iago retirou-se do hall assim que o primo aparecera, Felipe se dirigiu ao sobrinho, fingindo um sorriso de orelha à orelha.

- Escute – ele colocou suas mãos nos ombros do sobrinho. – Quero que você decida o que é certo para você. Amanhã é seu aniversário e também quando seus dons ficarão completamente desenvolvidos. – ele olhou para Rach, desdenhoso. – Então esse colega seu – ele apontou para Rach -, quer que você aprenda a habilidade de ocultar esses olhos que você esconde por trás das lentes.

- E eu quero... ! – Hardrik interrompeu.

- Eu sei disso – Felipe falou impaciente. – Mas você deve saber que é uma habilidade perigosa.

- Já está decidido tio Felipe. Vou aprender com Rach Gemini. – ele olhou para o colega que sorria e olhava para o chão. – Iremos começar hoje mesmo. – olhou para Rach, em busca de apoio. – Não é mesmo Rach?

Pela cara intrigada do garoto dava para se imaginar a resposta. Tio Felipe parecia vitorioso. Por que ele está tão alegre, esse idiota? Hardrik pensou.

- Na verdade Hardrik, nós iremos começar depois de amanhã. – ele parecia realmente meio desapontado, mas nada comparado a Hardrik, que parecia ter levado um soco no estômago. – Hoje iremos visitar uma pessoa.

Tio Felipe sorria abertamente, substituindo aquela cara imbecil que fazia; retirou-se e foi diretamente para a sala, deixando os dois garotos sozinhos no hall. Hardrik inconformado, perguntou aborrecido a Rach.

- Por que não posso aprender isso hoje?

- É porque você ainda não fez dezesseis anos, meu caro amigo. – Rach deu um tapinha nas costas de Hardrik tentando animá-lo. – Agora temos coisas mais importantes a fazer.

- Como o quê? – Hardrik perguntou ansioso.

Rach deu um sorrisinho prazeroso. Sua barriga roncou audívelmente e ele olhou para Hardrik, meio que descontente.

- Tomar um bom café. – disse por fim. – Onde fica a cozinha?